quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Sudão há um ano


     Tento sintetizar neste artigo as experiências que vivi, em dezembro de 2009, quando viajei ao Sudão, na África. Lá produzi uma série de reportagens chamada “Sob o Sol do Sudão”, exibida em janeiro de 2010, pelo SBT. Conheci a capital Cartum e uma das regiões mais violentas e miseráveis do mundo, Darfur, no oeste do país. Darfur lembra o velho oeste, dos filmes americanos. É o lugar perfeito para antigas disputas entre cowboys armados. A comparação se deve à condição ruim que se encontra Darfur. Rica em petróleo, a região viveu 40 anos de uma guerra civil que,  há seis anos,  está “paralisada”. Como resultado da guerra, mais de 2 milhões de pessoas fugiram. Trezentas mil pessoas morreram, segundo as Nações Unidas. Região saariana, onde chuva é coisa rara, a tristeza da guerra juntou-se ao desespero da luta pela vida.  Homens, mulheres, crianças, idosos, definhavam de sede e fome em frente às câmeras da mídia mundial. Hoje a situação é melhor? Talvez, mas não torna as condições de vida dos habitantes menos tensa e castigada. O Sudão sofre embargo econômico dos Estados Unidos e países aliados. O presidente, Omar Al Bashir, há 40 anos no poder, e recentemente “reeleito” mais uma vez, é acusado de crimes de guerra pelo Tribunal Internacional de Haya.
     Na disputa entre os poderosos quem sofre é o povo. Faltam água, comida, remédios, escolas, hospitais, saneamento. O lugar é paupérrimo. Além disso vive sob uma ditadura militar islâmica. Oposição política existe, mas é abafada. Liberdade de expressão é algo perigoso de se praticar.

A capital
     Cartum, é uma cidade interessante e bonita. Lá, se encontram o Rio Nilo azul com o Nilo Branco, formando o Rio Nilo, que desagua no mar Mediterrâneo, ao Norte do Egito. Águas que, segundo a Bíblia, carregaram o bebê e profeta judeu Moisés para os braços da mulher do Faraó, dando origem à história mitológica do povo judeu. Também foi inspiração para o filme que leva o nome da capital, “Cartum”, filmado em 1966. A casa do general inglês Gordon (em deterioração) e a do revolucionário muçulmano Mahdi (bem conservada) estão abertas à visitação.
     Os habitantes locais tomam a água turva que vem do Nilo. Pouquíssimos têm dinheiro para comprar água engarrafada. A energia elétrica é pré paga e quem não pagar fica à luz de velas rapidinho.

As pirâmides dos Núbios
     Ao Norte de Cartum, seguindo pela estrada construída com investimentos do homem mais procurado do mundo, o saudita Osama Bin Laden, que morou no Sudão na década de noventa, chega-se as ruínas das pirâmides daqueles que são chamados de “os faraós negros”. Cerca de vinte pirâmides do império Núbio estão se decompondo aos poucos. As que receberam restauração ficaram muito diferentes das originais. Todas agora parecem abandonadas e em deterioração.

Visão geral
     Nas ruas há peculiaridades culturais muito interessantes, como as pinturas de henna que as mulheres casadas usam, as lutas livres em bairros cristãos, disputadas em arenas rudimentares. Por todo canto, há bares para fumar narguilé, típico cachimbo árabe, pois a proibição do alcool só deixa essa opção como diversão noturna aos habitantes. Mulheres vestidas de burca, veste islâmica que cobre todo o corpo e só deixa os olhos de fora, são  vistas andando para todos os lados, algumas com  as mãos cobertas com luvas. Mercados tradicionais de rua, onde se vendem carne e peixe ao ar livre e sem refrigeração. Vendem também marfim e cabelo de elefante.
     O Sudão enfrenta há tempo um processo de separação da parte Sul, que não consegui visitar. No sul,  a lei islâmica não é  obedecida por causa da resistência sócio-cultural dos povos da região.  Oficialmente, a questão vai ser decidida em plebiscito marcado para o primeiro semestre de 2011.  Ainda é uma incógnita se tudo ocorrerá em paz. Espero que tudo ocorra da melhor forma possível e o povo sudanês, carinhoso e receptivo, avance em direção a um futuro melhor.

Foto: Guia turístico dentro de uma das pirâmides do Sudão
Fotógrafo: André Lara


      

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