sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Refugiados de guerra


Por André Lara


O que fazer quando seu país está envolvido em algum conflito, seja político, religioso ou étnico e, você passa a ser perseguido por declarados inimigos? Em muitos lugares do mundo as guerras transformam a vida de muita gente, deixando a elas a fuga como única opção. Essa fuga não é para um lugar próximo e sim um local desconhecido, onde o fugitivo não conhece nada, nem ninguém e na maioria das vezes, conta apenas com a própria sorte.


As pessoas que fogem de seus países de origem por motivos de temores de perseguição por causa de raça, religião, nacionalidade, grupo social, formação ou opinião política e são acolhidas em outras terras, recebem o status de refugiados. São recebidos pelas nações e sobre eles é feito um trabalho de adaptação aos costumes locais.


Quando um refugiado chega ao Brasil ele pode pedir status de refugiado ao governo. Após isso, um trabalho de investigação é realizado para ter a certeza de que o pedido é válido. O Comitê Nacional para Refugiados (CONARE) é responsável por essas pesquisas e tem como integrantes o Itamaraty, o Ministério do Trabalho, Ministério da Justiça, Ministério da Saúde, Ministério da Educação, a Polícia Federal, uma instituição católica e o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR). “As pessoas que recebemos é que nos procuram. Muitas vêm escondidas em navios ou entram como turistas e depois pedem refugio. Atendemos aqui 78 nacionalidades,” Nos conta Sezira Furquim, coordenadora do Centro de Acolhida para Refugiados, da Cáritas Arquidiocesana de São Paulo.


O primeiro passo para ajudar os refugiados, é lhes dar cidadania, pois muitos chegam sem nenhum documento ou, com documentos falsos. Após esse processo podem andar livremente pelo território nacional, trabalhar e usufruir de todos os serviços públicos que o país oferece. Depois é realizado um trabalho de integração social. “No começo foi muito difícil. Muitas vezes chorava achando que foi pior sair do meu país, mas graças a Deus as coisas se acertaram.” Declara Ahmed Hussein, palestino refugiado no Brasil há dois anos. Ahmed veio por causas das tensões entre o povo palestino e o Estado de Israel.


“Tinha medo de ver toda a minha família morta. Perdi meus pais, dois irmãos, não quero perder meus filhos, então a única maneira foi fugir.” Trazidos pelo governo brasileiro devido a um acordo entre o Brasil e a ACNUR, a família de Ahmed é uma entre centenas de outras famílias que fugiram de seu país por causa do drama da guerra. Casos semelhantes ocorrem com pessoas de outras nacionalidades, principalmente de países do continente africano, onde conflitos locais entre tribos e facções contribuem para o aumento de refugiados africanos no mundo.


Mohammad que pediu para não ter nome completo revelado por medo de represálias é da Somália. País que passa recentemente por conflitos internos. Ele veio sozinho para o Brasil a bordo de um navio cargueiro, escondido dentro de um container. “Foram dias sem comer. Não podia pedir ajuda pra ninguém, tinha medo que me jogassem pra fora da embarcação. Então, quando anoitecia, ia como um rato e roubava pão e água da tribulação, sempre sem ser visto. Não escolhi vir pra cá, apenas entrei no primeiro navio que consegui.” Mohammad é muçulmano, fala francês, inglês, árabe e a língua somali que diferencia conforme uma das 18 regiões que compõe o país, que tem seu território disputado por vários caudilhos.


Antes de se refugiar, trabalhava como advogado de um senhor de guerra. Depois que sua facção perdeu poder e passou a ser perseguida, só restou ao advogado fugir, sem lenço, nem documento, para poder continuar vivo. Hoje, vive com outros refugiados, dividindo as despesas de uma casa. “Mesmo não tendo a vida que eu tinha lá, como advogado, aqui sou mais feliz, pois sei que não verei guerra e violência tão cedo, se Deus quiser.”


O drama atinge milhares de pessoas no Brasil. Cerca de quatro mil refugiados vivem no país recentemente. E ainda, existem milhares que estão morando aqui em colônias e ilegais por não procurarem o governo brasileiro, às vezes com medo de ser encontrado e ter a paz roubada mais uma vez.


Enfim, o Brasil continua até hoje recebendo refugiados das guerras, se tornando cada vez mais um grande berço da miscigenação.

Foto: Crianças no campo de refugiados em Nyala, capital de Darfur. Setenta mil deslocados internos vivem nesse campo. Alimentos recebidos por ajudas humanitárias atingem apenas 70% dos necessitados.

Foto: André Lara