terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Era uma vez um fato

    Era uma vez um jovem militante durante a ditadura, no país das Bananas. Todos os dias, sem empunhar armas, apenas com panfletos onde estavam escritas suas ideologias, ele saia às ruas para pregar os ideais contrários aos que na época governavam o país Bananas. Certa dia, ele não votou para casa. A mãe preocupada nem sabia para quem perguntar sobre o paradeiro do filho amado. Desesperada procurou por todos os locais, mas nada nem ninguém tinha informação. Depois de algum tempo, ficou sabendo que muitos ativistas da época, contrários ao governo das Bananas, sumiram como o filho dela. Descobriu que ele, provavelmente junto com outros, poderia ter sido preso, torturado, morto, enterrado ou talvez queimado como uma madeira velha. Indefesa, sem possibilidade de reivindicar justiça, calou-se por anos.
   O tempo passou e claro que aquela mãe não esqueceu do filho que nunca mais voltou. Então, com uma situação política mais liberal, mais decente e mais digna para um povo, ela procurou uma pessoa que poderia dar-lhe uma resposta que aliviasse a enorme angústia que lhe apertava o coração havia anos. Tristeza que valeram noites de insônia, onde imaginava a volta do filhote amado.
    A ajuda viria de um grande general. Homem do poder, ainda atuando na esfera política, recebeu a mãe do sumido e disse:
    - Minha senhora, seu filho àquela época se envolveu em atos de subversão. Ele atuou contra os princípios do Estado.
    A mãe respondeu:
-       Mas ele só tinha 20 anos e tinha sonhos, era um jovem começando a vida. Queria transmitir suas idéias. Nunca pegou em armas ou agrediu alguém. Apenas falava e escrevia. Sonhava em ser jornalista.
-       Não importa.
Respondeu o imponente militar. E continuou:
-       Agora o que você precisa ver é que isso faz parte do passado. Olhe para frente. Afinal, o sumiço do seu filho, como de muitos outros, é apenas um fato histórico.
Assim foi embora a mãe. Rezando para que tempo como aquele não voltasse mais. Imaginando que com isso, muitos outros filhos,  de outras mães, poderiam desaparecer e tornarem-se apenas fatos históricos.

Um comentário:

Dionisio disse...

Ninguém mandou ele ser comunista. Dançou.