Pôr do sol na África, na cidade de Cartum, capital do Sudão Foto: Andre Lara /dez/2009 |
Ontem falei por telefone com um amigo sudanês, que garantiu que a posição dos políticos em Cartum em relação ao referendo é calma. “Não há tensão. O presidente já deu várias declarações de que o governo do Sudão aceitará o resultado do referendo”.
Muito bem. Acho ótimo que Omar Al Bashir não queira movimentar o exército para segurar o sul do país. Afinal, por ordem do governo dele, muita gente inocente morreu. Porém, no interior do Sudão há muitos guerrilheiros, também no sul. Com certeza haverá disputas territoriais e políticas à base da bala.
Em 2009, quando visitei o país, recebi a informação de que grupos nômades armados existem aos montes, são tribos. O Sudão é um vasto território, a maior parte não têm estradas asfaltadas. Foge ao controle do governo a movimentação de tribos que se deslocam procurando terra, e que aceitam lutar para ganhar dinheiro e comida. Questão de sobrevivência.
As batalhas que estão acontecendo, anunciadas nos jornais, não são novidade. Sempre houve e com o aumento da instabilidade política que tende a ocorrer, caso a separação ocorra, só resultará em mais conflitos tribais por oportunidades melhor de existência. Dai não adianta apontar o dedo para ninguém, pois muitos são os senhores das armas que fazem seus negócios sombrios, armando tribos para se confrontarem. Não importa quem morra. Talvez, se pensar melhor, a secessão não é a solução de um problema e sim, o começo de vários outros.
Os governantes africanos estão temerosos. Acham que a independência do sul pode fortalecer ideais de separação que ocorrem em outros países, como Angola, Somália, Tanzânia, Marrocos e Senegal.
A situação do continente africano é muito mais complexa do que podem mostras os jornais e TVs. A divisão étnica que existe é de proporção pitoresca e a cultura tribal é claramente predominante.
Torço para que tudo ocorra em paz, mas temos que encarar que nem sempre a torcida basta.